Por muitos anos mantive o hábito de escrever meus dias,
acontecimentos e memórias em diários.
Minha
inspiração foi Doug Funny – personagem de um desenho animado homônimo que escreve suas aventuras e desventuras em seu “querido diário”. Assim, no natal de 97 pedi uma agenda de presente ao Papai Noel, o bom velhinho
prontamente atendeu ao meu pedido e comecei os registros.
Claro que não era nada muito emocionante, algo como brincadeiras em piscinas de
plástico, corridas de bike pelo bairro, jogos de vôlei, ódio
mortal por matemática, brigas e intrigas pela escola, o incêndio causado
por uma vela no clubinho, enfim, coisas que uma criança de nove anos,
caçula, moradora de uma cidade interiorana teria para contar.
Com o passar do tempo as histórias foram mudando de rumo: primeiro beijo aos 13, paixonites agudas e totalmente não correspondidas, as loucuras do Ensino Médio, a marcação dos meus pais com festas e passeios, bons amigos, reprovação em física, primeira viagem sozinha, o vestibular, o dia em que saí de casa, a faculdade, novos amigos...
Com o passar do tempo as histórias foram mudando de rumo: primeiro beijo aos 13, paixonites agudas e totalmente não correspondidas, as loucuras do Ensino Médio, a marcação dos meus pais com festas e passeios, bons amigos, reprovação em física, primeira viagem sozinha, o vestibular, o dia em que saí de casa, a faculdade, novos amigos...
O estranho é
que criei o costume de todos os anos ler e transportar-me para os acontecimentos mais
diversos da minha vida, momentos em que eu era a personagem de minha própria
história.
Este ano abri meus diários, olhei longamente minha letra e parecia
que aquele personagem já não habitava minha memória, um personagem tão
estranho que pela primeira vez não pude me visualizar nas histórias.
Hoje decidi
queimar 13 anos de histórias, mas antes olhei atentamente cada página e seus coadjuvantes... Pessoas que foram tão importantes e que hoje não
reconheço, outras que ficaram perdidas e caíram no
esquecimento ou as que a vida levou, as que
hoje permanecem no meu coração, porém tão longe da convivência e as que não saíram
da minha vida.
Muita coisa
não pude deixar queimar, muitas cartas, fotos, lembranças que ainda precisam
ficar enraizadas nas minhas gavetas esperando o momento certo de partirem com
as outras páginas empoeiradas.
Somente uma
pergunta e um silêncio em resposta permaneceram no meu dia: será que um pedaço
de mim partiu com aquelas velhas páginas?